13.3.12

E no fim pode ser hilário ...



Se Freud disse que o pai é o primeiro namorado da filha, certamente ele acertou no meu caso. Lembro claramente a primeira vez que vi meu lindo pai de branco, fardado com o famoso pirulito – uniforme de marinha - entrando no meu quarto e me acordando, como há anos, ele adora fazer. Aliás, meu pai tem um hábito curioso de sair cedo pra trabalhar ou jogar bola, se aproximar da cama e ficar dizendo: “filha, quer conversar?”, tipo 6 horas da manhã eu não quero falar com ninguém, eu quero dormir. Aí eu digo “não pai, de boa, vai pro trabalho!” e ele rebate ironicamente, “tem certeza? Depois não vai dizer que aqui em casa não teve diálogo”. Voltando ao dia que ele entrou no meu quarto, eu tinha uns 3 anos... Tomei um baita susto e disse “meu Deus, como tá lindo, como você é lindo”. Amor a milésima vista, já amava aquele homem, de fato, lindo “lifetimes before” como diz a música. Mas naquele dia a definição de paixão se encaixou perfeitamente. Meu coração disparou pelo militar vestido de branco mais lindo que esse mundo já viu.


E foi assim que minha vida foi seguindo, seu Heraldo foi meu Tom Cruise de Top Gun na versão melhorada. Sempre me apoiando, me direcionando com suas frases sábias: “de tudo eu sei tudo”, “não vai dizer que a cigana te enganou”, “Raquel, não mete essa!”. E várias outras que viraram jargões entre os meus amigos. Meu pai dormia dentro do carro, na porta das festas, porque a gente morava longe, nunca me deixou ir num “cala boca e beija logo” por causa do nome da festa e dizia (diz...) “tá pensando que eu sou pai de novela? Isso lá é nome de festa!”

Pai é pai, cada um tem o seu e o de cada um melhor que todos os outros. O meu tinha uma blusa, gola canoa laranja, tem uma unha preta no dedão do pé, vários “tiques nervosos”, reclama de tudo, me apóia em tudo, assiste friends e patricinhas de beverly hills, me levou em todos os shows de Sandy e Junior, me olhou sério quando eu mereci, me deu uns justos tapas, leu todas as porcarias que eu escrevia e tem o maior coração do mundo.

Mas se tem uma história que eu adoro contar do meu pai é do dia que eu sabiamente disse a ele que estava namorando... Passei uma semana pra levar a ave de rapina lá em casa, sob as ligeiras cobranças do meu digníssimo patriarca. “cadê, eu não vou conhecer defunto não?”, os dias foram passando e eu não dormia. A ave cheia de pose, enchia o peito em dizer que estava tudo certo, que era só eu chamar que ele ia se apresentar pro seu Heraldo e eu disse “não chama de tio, por favor”. Meu pai é tio pra todo mundo, mas pra namorado ele é “oi, já to indo, boa noite”.

Se não me falha a memória eu comecei a namorar numa sexta-feira a noite, isso há uns 7 anos, numa festa do colégio militar em Salvador, cheguei em casa naturalmente no sábado e dei a bomba! Exatamente uma semana depois, tava rolando um evento de marinha, vários amigos do meu pai reunidos, e eu tive a brilhante idéia: aqui, na frente de todos meu pai não vai fazer escândalo, não vai fazer uma piada de mau gosto e meu recente namoro tá salvo.

Passei duas horas chamando o sujeito que queria sair voando pela janela e se afogar nos mares de Inema. Assustado depois de uma semana vendo a namorada sofrer o coitado ficou com medo. “Pronto fulano, vamos?”ele respondeu com força “vamos!”. Na metade do caminho eu disse “não vamos, não vamos, não vamos, pelo amor de Deus não vamos!”.

Antes do evento militaresco eu vi nos olhos do meu pai a satisfação de que ia fazer maldade e a ave ia virar piriquito, beija-flor, tava temendo a piada. Pra ninguém achar que seu Heraldo é um homem violento, brabo e etc. Não é tanto, não ia bater em ninguém (e não vai hein gente?!) mas ia (e vai!) fazer uma MEGA piada, me deixar super sem graça, tentar acabar com minha social ou contar algo embaraçoso na frente do rapaz.

Andando pelos corredores do hotel de transito de Inema, onde estava meu fabuloso painho, o Nem, agora quem mudou de idéia foi a ave. Menina, o homem enlouqueceu, só faltou dizer que não queria namorar mesmo, que se precipitou, queria marcar pra ver meu pai na próxima visitação do papa no Brasil. Aí eu comecei a fazer o que? Chorar? Rir? Ou fazer o certo que era aceitar que ninguém ali queria namorar mesmo e dar a meia volta? Não! Eu resolvi puxar pelas asas, em tom de brincadeira, repetindo “vamos, vamos, está tudo bem, eu até já perdi o medo” o menino dizia “mas eu não, eu to com medo, vamos deixar pra depois...” De repente, não mais que de repente o riso realmente se fez pranto. Vinicius (o de Moraes) começou a declamar nos meus ouvidos o fim da minha história de amor, o soneto da separação. Meu pai chegou, com as mãos na cintura e disse: “Que %¨&* é essa Raquel?”.

Que vergonha! É isso, eu poderia escrever um livro de histórias engraçadas do meu pai herói, histórias lindas que mostram como ele tem um coração que mete inveja nos mesquinhos e avarentos. Um exemplo de caráter, um exemplo de homem e de pai. O cara que ouve minhas arranhadas no violão e diz que tá lindo, que dá pitaco na minha calça jeans e me ama incondicionalmente que eu sei! Te amo, Pai. Feliz aniversário!


Raquel Pimentel

4 comentários:

  1. Adoreeeeeeeeeeeeei, quel :D
    Minha prima que está do meu lado também! Hahahaha

    Beijo!

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    Respostas
    1. Obg meu bem! um xero na prima tb! To chegando família! haha

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  2. Sabe que vc ainda é uma menina, no amor o seu mundo é azul. Lembra das fases que eu digo: rosa, azul, cinza, marron e preto.
    Pois é, vc ainda está no azul, minha doce menina.
    Cada fase vai chegar ao seu tempo.
    Amo qd voce escreve.
    Beijos
    Com amor, do fundo do meu core

    Rita Pimentel

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