20.3.12

Filosofia barata e Feliz aniversário seu lindo!



Se Freud disse que o pai é o primeiro namorado da filha, certamente ele acertou no meu caso. Lembro claramente a primeira vez que vi meu lindo pai de branco, fardado com o famoso pirulito – uniforme de marinha - entrando no meu quarto e me acordando, como há anos, ele adora fazer. Aliás, meu pai tem um hábito curioso de sair cedo pra trabalhar ou jogar bola, se aproximar da cama e ficar dizendo: “filha, quer conversar?”, tipo 6 horas da manhã eu não quero falar com ninguém, eu quero dormir. Aí eu digo “não pai, de boa, vai pro trabalho!” e ele rebate ironicamente, “tem certeza? Depois não vai dizer que aqui em casa não teve diálogo”. Voltando ao dia que ele entrou no meu quarto, eu tinha uns 3 anos... Tomei um baita susto e disse “meu Deus, como tá lindo, como você é lindo”. Amor a milésima vista, já amava aquele homem, de fato, lindo “lifetimes before” como diz a música. Mas naquele dia a definição de paixão se encaixou perfeitamente. Meu coração disparou pelo militar vestido de branco mais lindo que esse mundo já viu.


E foi assim que minha vida foi seguindo, seu Heraldo foi meu Tom Cruise de Top Gun na versão melhorada. Sempre me apoiando, me direcionando com suas frases sábias: “de tudo eu sei tudo”, “não vai dizer que a cigana te enganou”, “Raquel, não mete essa!”. E várias outras que viraram jargões entre os meus amigos. Meu pai dormia dentro do carro, na porta das festas, porque a gente morava longe, nunca me deixou ir num “cala boca e beija logo” por causa do nome da festa e dizia (diz...) “tá pensando que eu sou pai de novela? Isso lá é nome de festa!”


Pai é pai, cada um tem o seu e o de cada um melhor que todos os outros. O meu tinha uma blusa, gola canoa laranja, tem uma unha preta no dedão do pé, vários “tiques nervosos”, reclama de tudo, me apóia em tudo, assiste friends e patricinhas de beverly hills, me levou em todos os shows de Sandy e Junior, me olhou sério quando eu mereci, me deu uns justos tapas, leu todas as porcarias que eu escrevia e tem o maior coração do mundo.


Mas se tem uma história que eu adoro contar do meu pai é do dia que eu sabiamente disse a ele que estava namorando... Passei uma semana pra levar a ave de rapina lá em casa, sob as ligeiras cobranças do meu digníssimo patriarca. “cadê, eu não vou conhecer defunto não?”, os dias foram passando e eu não dormia. A ave cheia de pose, enchia o peito em dizer que estava tudo certo, que era só eu chamar que ele ia se apresentar pro seu Heraldo e eu disse “não chama de tio, por favor”. Meu pai é tio pra todo mundo, mas pra namorado ele é “oi, já to indo, boa noite”.

Se não me falha a memória eu comecei a namorar numa sexta-feira a noite, isso há uns 7 anos, numa festa do colégio militar em Salvador, cheguei em casa naturalmente no sábado e dei a bomba! Exatamente uma semana depois, tava rolando um evento de marinha, vários amigos do meu pai reunidos, e eu tive a brilhante idéia: aqui, na frente de todos meu pai não vai fazer escândalo, não vai fazer uma piada de mau gosto e meu recente namoro tá salvo.
Passei duas horas chamando o sujeito que queria sair voando pela janela e se afogar nos mares de Inema. Assustado depois de uma semana vendo a namorada sofrer o coitado ficou com medo. “Pronto fulano, vamos?”ele respondeu com força “vamos!”. Na metade do caminho eu disse “não vamos, não vamos, não vamos, pelo amor de Deus não vamos!”.

Antes do evento militaresco eu vi nos olhos do meu pai a satisfação de que ia fazer maldade e a ave ia virar piriquito, beija-flor, tava temendo a piada. Pra ninguém achar que seu Heraldo é um homem violento, brabo e etc. Não é tanto, não ia bater em ninguém (e não vai hein gente?!) mas ia (e vai!) fazer uma MEGA piada, me deixar super sem graça, tentar acabar com minha social ou contar algo embaraçoso na frente do rapaz. 
Andando pelos corredores do hotel de transito de Inema, onde estava meu fabuloso painho, o Nem, agora quem mudou de ideia foi a ave. Menina, o homem enlouqueceu, só faltou dizer que não queria namorar mesmo, que se precipitou, queria marcar pra ver meu pai na próxima visitação do papa no Brasil. Aí eu comecei a fazer o que? Chorar? Rir? Ou fazer o certo que era aceitar que ninguém ali queria namorar mesmo e dar a meia volta? Não! Eu resolvi puxar pelas asas, em tom de brincadeira, repetindo “vamos, vamos, está tudo bem, eu até já perdi o medo” o menino dizia “mas eu não, eu to com medo, vamos deixar pra depois...” De repente, não mais que de repente o riso realmente se fez pranto. Vinicius (o de Moraes) começou a declamar nos meus ouvidos o fim da minha história de amor, o soneto da separação. Meu pai chegou, com as mãos na cintura e disse: “Que %¨&* é essa Raquel?”.

Que vergonha! É isso, eu poderia escrever um livro de histórias engraçadas do meu pai herói, histórias lindas que mostram como ele tem um coração que mete inveja nos mesquinhos e avarentos. Um exemplo de caráter, um exemplo de homem e de pai. O cara que ouve minhas arranhadas no violão e diz que tá lindo, que dá pitaco na minha calça jeans e me ama incondicionalmente que eu sei! Te amo, Pai. Feliz aniversário!

Raquel Pimentel

13.3.12

E no fim pode ser hilário ...



Se Freud disse que o pai é o primeiro namorado da filha, certamente ele acertou no meu caso. Lembro claramente a primeira vez que vi meu lindo pai de branco, fardado com o famoso pirulito – uniforme de marinha - entrando no meu quarto e me acordando, como há anos, ele adora fazer. Aliás, meu pai tem um hábito curioso de sair cedo pra trabalhar ou jogar bola, se aproximar da cama e ficar dizendo: “filha, quer conversar?”, tipo 6 horas da manhã eu não quero falar com ninguém, eu quero dormir. Aí eu digo “não pai, de boa, vai pro trabalho!” e ele rebate ironicamente, “tem certeza? Depois não vai dizer que aqui em casa não teve diálogo”. Voltando ao dia que ele entrou no meu quarto, eu tinha uns 3 anos... Tomei um baita susto e disse “meu Deus, como tá lindo, como você é lindo”. Amor a milésima vista, já amava aquele homem, de fato, lindo “lifetimes before” como diz a música. Mas naquele dia a definição de paixão se encaixou perfeitamente. Meu coração disparou pelo militar vestido de branco mais lindo que esse mundo já viu.


E foi assim que minha vida foi seguindo, seu Heraldo foi meu Tom Cruise de Top Gun na versão melhorada. Sempre me apoiando, me direcionando com suas frases sábias: “de tudo eu sei tudo”, “não vai dizer que a cigana te enganou”, “Raquel, não mete essa!”. E várias outras que viraram jargões entre os meus amigos. Meu pai dormia dentro do carro, na porta das festas, porque a gente morava longe, nunca me deixou ir num “cala boca e beija logo” por causa do nome da festa e dizia (diz...) “tá pensando que eu sou pai de novela? Isso lá é nome de festa!”

Pai é pai, cada um tem o seu e o de cada um melhor que todos os outros. O meu tinha uma blusa, gola canoa laranja, tem uma unha preta no dedão do pé, vários “tiques nervosos”, reclama de tudo, me apóia em tudo, assiste friends e patricinhas de beverly hills, me levou em todos os shows de Sandy e Junior, me olhou sério quando eu mereci, me deu uns justos tapas, leu todas as porcarias que eu escrevia e tem o maior coração do mundo.

Mas se tem uma história que eu adoro contar do meu pai é do dia que eu sabiamente disse a ele que estava namorando... Passei uma semana pra levar a ave de rapina lá em casa, sob as ligeiras cobranças do meu digníssimo patriarca. “cadê, eu não vou conhecer defunto não?”, os dias foram passando e eu não dormia. A ave cheia de pose, enchia o peito em dizer que estava tudo certo, que era só eu chamar que ele ia se apresentar pro seu Heraldo e eu disse “não chama de tio, por favor”. Meu pai é tio pra todo mundo, mas pra namorado ele é “oi, já to indo, boa noite”.

Se não me falha a memória eu comecei a namorar numa sexta-feira a noite, isso há uns 7 anos, numa festa do colégio militar em Salvador, cheguei em casa naturalmente no sábado e dei a bomba! Exatamente uma semana depois, tava rolando um evento de marinha, vários amigos do meu pai reunidos, e eu tive a brilhante idéia: aqui, na frente de todos meu pai não vai fazer escândalo, não vai fazer uma piada de mau gosto e meu recente namoro tá salvo.

Passei duas horas chamando o sujeito que queria sair voando pela janela e se afogar nos mares de Inema. Assustado depois de uma semana vendo a namorada sofrer o coitado ficou com medo. “Pronto fulano, vamos?”ele respondeu com força “vamos!”. Na metade do caminho eu disse “não vamos, não vamos, não vamos, pelo amor de Deus não vamos!”.

Antes do evento militaresco eu vi nos olhos do meu pai a satisfação de que ia fazer maldade e a ave ia virar piriquito, beija-flor, tava temendo a piada. Pra ninguém achar que seu Heraldo é um homem violento, brabo e etc. Não é tanto, não ia bater em ninguém (e não vai hein gente?!) mas ia (e vai!) fazer uma MEGA piada, me deixar super sem graça, tentar acabar com minha social ou contar algo embaraçoso na frente do rapaz.

Andando pelos corredores do hotel de transito de Inema, onde estava meu fabuloso painho, o Nem, agora quem mudou de idéia foi a ave. Menina, o homem enlouqueceu, só faltou dizer que não queria namorar mesmo, que se precipitou, queria marcar pra ver meu pai na próxima visitação do papa no Brasil. Aí eu comecei a fazer o que? Chorar? Rir? Ou fazer o certo que era aceitar que ninguém ali queria namorar mesmo e dar a meia volta? Não! Eu resolvi puxar pelas asas, em tom de brincadeira, repetindo “vamos, vamos, está tudo bem, eu até já perdi o medo” o menino dizia “mas eu não, eu to com medo, vamos deixar pra depois...” De repente, não mais que de repente o riso realmente se fez pranto. Vinicius (o de Moraes) começou a declamar nos meus ouvidos o fim da minha história de amor, o soneto da separação. Meu pai chegou, com as mãos na cintura e disse: “Que %¨&* é essa Raquel?”.

Que vergonha! É isso, eu poderia escrever um livro de histórias engraçadas do meu pai herói, histórias lindas que mostram como ele tem um coração que mete inveja nos mesquinhos e avarentos. Um exemplo de caráter, um exemplo de homem e de pai. O cara que ouve minhas arranhadas no violão e diz que tá lindo, que dá pitaco na minha calça jeans e me ama incondicionalmente que eu sei! Te amo, Pai. Feliz aniversário!


Raquel Pimentel

7.3.12

Noites de quinta



Naquele silêncio da madrugada pensei e repensei várias vezes nas linhas que escreveu, elas mexem comigo. Sempre penso se nelas há algo que eu possa me apropriar. Será que ao formar aquelas palavras, por algum momento meu nome passou por sua mente, se em um minuto ou milésimo de segundo, ele que sinto ser tão disperso de mim, me achou.

E você é toda inspiração, cada palavra, cada letra, cada verbo e adjetivo que coloco em uma frase têm a ver com você e com sua existência perturbadora. Porque me perturba em mente e em espírito e é por isso que escrevo, porque não sou naturalmente perturbado, mas porque estou e estou porque você está, e está em mim. Minha pele, meu corpo, minha boca e agora minha literatura anseia por você.



Ao ler o que escreve sinto excitação e vontade de te ver, te sentir e olhar seus olhos fundos, dizer o que e sinto. Porque minha vontade hoje está mais forte que ontem. E você é a presença ausente mais dolorosa e nós nos vemos tão pouco. Você nem sabe que eu te quero e o quanto te desejo. Tenho a sensação que você sabe de mim, és tão poeta, tão intenso e sabe de muitas coisas, como pode não saber de mim.


Agora que escrevi um conto com seu nome você entenderá que é você. Aí não precisarei mais, por vezes tentar dizer-te tudo, nem cruzar esse caminho turbulento até seu coração que para mim é tão fechado e conflituoso. E ali você está toda presente, toda expressiva, toda mulher e dona de si. Na primeira e única vez que te toquei, em um simples cumprimento de mãos, no dia que te conheci, passei o resto da noite tocando a mão que te tocou. Escondidas sob a mesa, o copo ficou abandonado porque minhas mãos ocuparam-se da alegria de terem sido tocadas por você. 

Lembro nitidamente do dia que quase nos rendemos, numa troca profunda de olhares. E aquele vinho e não falávamos diretamente nada um com o outro, os nossos encontros são assim no meio dos outros. E de repente eu vejo quando tardiamente você me repara e estou prestes a me levantar, meu horário a muito expirou e preciso partir, porque anseio deitar em minha cama e pensar em você até dormir. Forçar minha mente para sonhar com você e subornar meu corpo.

Ao levantar-se nem acreditei, há muito temia olhar-te diretamente nos olhos, porque temia ser reduzido a nada, quando eles esfuziantes mirassem minha alma tão rápido que não notaria a paixão que há neles. Passei meses me contentando com sua voz que por vezes domina todo o ambiente. Tento entrar em contato com seu assunto, mas algo me impede a voz, não quero parecer fraco, mas de fato sou. Sou artista, sou escritor, sou você.

Depois de tanto tempo, platonicamente amando seu andar, sua voz pouco ouvida, presa nas suas palavras que você nem sabe que eu conheço. Com ciúme das suas inspirações, adormeço sabendo que amanhã é mais um dia da minha existência, esperando as noites de quinta te ver, como todas. Esperar sua confirmação para sexta. E novamente me preparar, porque sinto que de alguma forma me percebes, que não sou assim tão apagada a sua vida. Li seu mais novo conto ontem e ele tem meu nome. Sorrio sozinha e penso se você sabe que esse nome é meu também, a moça sentada quase a sua frente nas noites de quinta...

Trazer você a minha vida, levantar daquela mesa e dançar lentamente sua canção favorita. Cheirar seu cabelo e absorver sua beleza especialmente preparada pra mim. Sussurrar no seu ouvido palavras minhas, versos meus. Te escrever uma sinfonia. Fazer filhos e criá-los, ficar velho e dependente cada dia mais de seu sorriso.

Quero pertencer aos seus olhos e as suas histórias, me entregar a sua vida e a sua rotina. Compreender seu cotidiano e com amor dizer que te amo. Andar sorridente com meu melhor vestido ao seu lado, ser carregada por seus braços e suas mãos, ser beijada na praça, na porta, no salão, em todos os lugares por você. Quero pertencer aos seus olhos e as suas histórias...

Hoje, no dia mais esperado da semana, em frente ao mar, ao som de um violão naquela praça, naquelas mesas eu vou sentar ao teu lado, te olhar diretamente por mais que cinco segundos, te tirar pra dançar, sussurrar no seu ouvido que existe um conto meu, com seu nome.


Raquel Pimentel