15.8.10

A farinha acabou!



Duas cutucadas com meu dedo indicador no ombro direito da desonesta. ROUBARAM MEU NOTEBOOK! Férias sinônimo de descanso saio de Salvador na esperança de curtir a curta pausa entre os semestres da Universidade, faço as malas e vou viajar. Destino: Belo Horizonte; ao descer no longínquo aeroporto de Confins em Minas Gerais, esqueço imbecilmente minha mochila no banheiro. Erro imperdoável, deslize castigado e a justa devolução não ocorreu, “e nem será!” garantiu o superintendente do aeroporto, conselho: não percam tempo com essas figuras de alto posto, a não ser que você seja alguém, e, de fato importante. Não é o meu caso. Se você pensou “eu também não devolveria”, fecha, e esquece que um dia você leu meu blog, você não é bem vindo. Eu esqueci minha mochila no banheiro feminino do desembarque do aeroporto de Confins. É sobre isso, esse deveria ser o título.

Quando arrumo as malas de uma viagem uso o seguinte critério: tudo de maior valor vai comigo, para que não passe o constrangimento de mala extraviada. Dessa vez falhou. E você ta assim “que burra como pode perder o notebook?”. Eu ainda estou pensando em como fiz isso.


Se eu disser que não to p. da vida pelos valores atribuídos aos meus objetos PESSOAIS ali contidos é mentira. Nem vou aqui ostentar as marcas, os preços, nem eu quero fazer as contas do que perdi, perdeu, perdeu. O que é revoltante nessa história é a senhorita que pegou a mochila e tomou para si minhas coisas. Que coragem amiga, em ano de eleição você safadamente cometer um crime desses! Porque se você que está lendo tem a coragem de agir dessa maneira, procure rever seus valores, eles podem ter sido invertidos no caminho que você vem trilhando sua vida e você não percebeu, ou até é capaz de tê-los perdido, portanto sugiro que os ache.


Como disse a deputada da câmara do Rio de Janeiro em revoltado discurso contra os desmandos políticos do nosso país, Cidinha Campos “a corrupção nesse país não está mais nos canalhas governistas, mas sim no DNA.”, ou seja, vivemos no clássico ladrão que rouba ladrão. Se o próprio brasileiro não age corretamente no seu cotidiano, no seu trabalho, no seu círculo de amigos e com sua família, como pode exigir do governo? Será que no lugar deles a sujeira seria menor?


Quando era pequena tudo o que achava e queria ficar para mim ouvia a repreensão dos meus pais: não é seu, devolva e eu sempre disparava com o argumento de para quem devolveria aquele estojo de mil funções. Eles sempre com uma resposta que me afastava daquele caríssimo inútil estojo que não era MEU! E assim eu fui me tornando uma intolerante com roubo, com desonestidade e corrupção.


“Farinha pouca, meu pirão primeiro!” aposto que a bandida está muito feliz com minha mochila, além de cheirosa. Acabou a farinha gente, a pessoa hoje põe em jogo sua integridade por um valor irrisório, não paga, ela sempre terá em seu currículo o roubo de uma mochila, a oportunidade de ter sido CORRETA e não ter sido. Nós deveríamos esperar uma oportunidade de ser íntegro, de ser honesto e manter nossas consciências limpas de jamais nos ter apropriado de algo que não era nosso. Agora por favor imaginem a cena, se eu sinto falta da minha mochila e volto atrás para buscá-la, já com o coração e a adrenalina imperando no meu cérebro, vejo a sujeita entrando num taxi com ela? Que vergonha ela passaria na frente de todo mundo, mas o ser desonesto aparentemente além dessa deficiência ainda não tem vergonha. [cara do absurdo] Só Kafka explica.


Agora se o poder funcionasse para uma cidadã simples como eu e em prol da sociedade a INFRAERO não teria essa norma estúpida e mal elaborada de não permitir acesso as câmeras de segurança do aeroporto. Afinal não traria minha mochila, meu notebook de volta, mas esclareceria os fatos, alguém pegou. E não ficaria por isso mesmo como estamos acostumados a permitir que o sistema corrupto do nosso país de canalhas nos impõe. Não é simplesmente ouvir que se não entregaram hoje, não vão entregar mais, tá errado. A bandida ao ligar o PC vai ver minha foto e meu email no acesso imediato ao msn, fora as minhas senhas todas gravadas que logo após saber da perda tive o cuidado de trocar. Além das fotos, de minha família e meus amigos.


Aqui no primeiro texto do blog, falei de ética, até citei a Elisa Lucinda – texto lido pela Ana Carolina, o “Só de Sacanagem” – que foi muito divulgado na internet na época do mensalão (2005). Na crônica a escritora e poetiza clama por honestidade, por postura de sujeito íntegro “devolva o lápis do coleguinha, esse [notebook] não é seu minha filha”. Não é seu minha filha, que revoltante, é meu, é minha mochila, minhas fotos, meus textos, minhas músicas, meus arquivos pessoais. Cresci ouvindo que a consciência é um juiz íntegro, todos tem e alguns morrem por ela, tomara que a sua esteja queimando seus dois neurônios: o “vou me dar bem” e o “será que alguém viu?”


Pra piorar – e isso é possível, sempre, o azar nunca está satisfeito – dois dias depois (dois dias depois!) minha mãe liga e diz, “filha o computador quebrou, o técnico disse que o hd queimou! Que isso?” Meu backup. Silêncio, não digo mais nada, até hoje tô caindo.
E pra você Carmem Sandiego, ladra, corrupta, sem coração que está agora feliz com meu pc, meus cremes, meus perfumes, meu scarpin (ironicamente tinha um na mochila) e minhas bijuterias, tomara que ele... não, acabei de ver o filme do Mandela. Te perdôo e como diz meu amigo Buz Lightear – Toy Story – “tenho pena de você estranho”.


E eu insisto no: honestos, “Só de sacanagem”!

Raquel Pimentel