7.3.12

Noites de quinta



Naquele silêncio da madrugada pensei e repensei várias vezes nas linhas que escreveu, elas mexem comigo. Sempre penso se nelas há algo que eu possa me apropriar. Será que ao formar aquelas palavras, por algum momento meu nome passou por sua mente, se em um minuto ou milésimo de segundo, ele que sinto ser tão disperso de mim, me achou.

E você é toda inspiração, cada palavra, cada letra, cada verbo e adjetivo que coloco em uma frase têm a ver com você e com sua existência perturbadora. Porque me perturba em mente e em espírito e é por isso que escrevo, porque não sou naturalmente perturbado, mas porque estou e estou porque você está, e está em mim. Minha pele, meu corpo, minha boca e agora minha literatura anseia por você.



Ao ler o que escreve sinto excitação e vontade de te ver, te sentir e olhar seus olhos fundos, dizer o que e sinto. Porque minha vontade hoje está mais forte que ontem. E você é a presença ausente mais dolorosa e nós nos vemos tão pouco. Você nem sabe que eu te quero e o quanto te desejo. Tenho a sensação que você sabe de mim, és tão poeta, tão intenso e sabe de muitas coisas, como pode não saber de mim.


Agora que escrevi um conto com seu nome você entenderá que é você. Aí não precisarei mais, por vezes tentar dizer-te tudo, nem cruzar esse caminho turbulento até seu coração que para mim é tão fechado e conflituoso. E ali você está toda presente, toda expressiva, toda mulher e dona de si. Na primeira e única vez que te toquei, em um simples cumprimento de mãos, no dia que te conheci, passei o resto da noite tocando a mão que te tocou. Escondidas sob a mesa, o copo ficou abandonado porque minhas mãos ocuparam-se da alegria de terem sido tocadas por você. 

Lembro nitidamente do dia que quase nos rendemos, numa troca profunda de olhares. E aquele vinho e não falávamos diretamente nada um com o outro, os nossos encontros são assim no meio dos outros. E de repente eu vejo quando tardiamente você me repara e estou prestes a me levantar, meu horário a muito expirou e preciso partir, porque anseio deitar em minha cama e pensar em você até dormir. Forçar minha mente para sonhar com você e subornar meu corpo.

Ao levantar-se nem acreditei, há muito temia olhar-te diretamente nos olhos, porque temia ser reduzido a nada, quando eles esfuziantes mirassem minha alma tão rápido que não notaria a paixão que há neles. Passei meses me contentando com sua voz que por vezes domina todo o ambiente. Tento entrar em contato com seu assunto, mas algo me impede a voz, não quero parecer fraco, mas de fato sou. Sou artista, sou escritor, sou você.

Depois de tanto tempo, platonicamente amando seu andar, sua voz pouco ouvida, presa nas suas palavras que você nem sabe que eu conheço. Com ciúme das suas inspirações, adormeço sabendo que amanhã é mais um dia da minha existência, esperando as noites de quinta te ver, como todas. Esperar sua confirmação para sexta. E novamente me preparar, porque sinto que de alguma forma me percebes, que não sou assim tão apagada a sua vida. Li seu mais novo conto ontem e ele tem meu nome. Sorrio sozinha e penso se você sabe que esse nome é meu também, a moça sentada quase a sua frente nas noites de quinta...

Trazer você a minha vida, levantar daquela mesa e dançar lentamente sua canção favorita. Cheirar seu cabelo e absorver sua beleza especialmente preparada pra mim. Sussurrar no seu ouvido palavras minhas, versos meus. Te escrever uma sinfonia. Fazer filhos e criá-los, ficar velho e dependente cada dia mais de seu sorriso.

Quero pertencer aos seus olhos e as suas histórias, me entregar a sua vida e a sua rotina. Compreender seu cotidiano e com amor dizer que te amo. Andar sorridente com meu melhor vestido ao seu lado, ser carregada por seus braços e suas mãos, ser beijada na praça, na porta, no salão, em todos os lugares por você. Quero pertencer aos seus olhos e as suas histórias...

Hoje, no dia mais esperado da semana, em frente ao mar, ao som de um violão naquela praça, naquelas mesas eu vou sentar ao teu lado, te olhar diretamente por mais que cinco segundos, te tirar pra dançar, sussurrar no seu ouvido que existe um conto meu, com seu nome.


Raquel Pimentel

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