14.11.09

Vestido curto e "Que país é esse?"




- Mãe quem é essa na televisão?
- É a Carla Perez.
- E porque ela está dançando?
- Porque ela é dançarina de uma banda na Bahia e ela é paga pra dançar.
- E ela ganha muito? Da pra comprar o que ?
- Ah minha filha, muita coisa.
- O que?
- Um carro, uma casa, uma geladeira nova...
- Isso eu tenho dá pra comprar toda a venda do seu João com todos os doces dentro?
- Se estiver a venda, dá sim.
- Então quando eu crescer eu quero ser como a Calila Perez.
- Carla filha, Carla Perez.
- Ah!
- Então tem que começar a dançar pra fazer direitinho filha!
É mais ou menos assim, a menina cresce dançando todos os tipos de música, é incitada sexualmente cedo demais, desce na boquinha da garrafa, e tudo bem, ela é criança. Tudo quanto é tipo de mídia hoje está voltado a desconstruir o passado com a desculpa de que estamos no século XXI, o resto é antiquado ou está fora de moda.

As crianças querem estar vestidas como adultos, e estão mais parecendo pequeninas pessoas com cérebro em desenvolvimento, meninas de salto, bolsa e seus inseparáveis celulares marcando o horário com a turma para falarem todos em seus MSN’s. Tudo isso a gente já sabe, as crianças não querem mais ser crianças e tudo envolve uma discussão de cunho sociológico onde a pergunta é: Onde pararam de se preocupar com as pequenas criaturas que um dia serão adultos responsáveis por suas vidas?

Porque parece que a sociedade está cada dia mais débil e deficiente no quesitos humanidade, paz e comunidade. Em São Paulo recentemente uma menina foi levada a escárnio público por causa de um vestido curto, todos saíram de suas salas e a xingaram de todos os possíveis nomes. Aí fica a minha pergunta, se todos estão achando um crime o aconteceu, quem acha certo? Quem fez aquilo? Porque pra mim mais parece um circo fora da realidade, não creio ainda que aquilo aconteceu, é chocante, humilhante e fora de tudo o que nós temos como referência.

No Brasil s mulheres sacolão (melancia, morango, uva, maça...) são endeusadas. Homens de todos os cantos comprovam sua medievalidade desejando tamanho absurdo de mistura de massa muscular em formas gigantes (gostosíssimas, para eles) com uma ignorância cultural FANTÁSTICA. Aí a menina usa um vestido que ela considera adequado, afinal ela não está em uma sociedade amish, e é “apedrejada” por um bando de imbecis aculturados de mentalidade limitada. Tenha dó! Isso porque estamos no mesmo país que a menos de três anos a personagem mais querida era a prostituta Bebel (personagem da Camila Pitanga, em Paraíso Tropical) com sua roupas curtas e seu palavreado grotesco.

Não estou aqui pra julgar o tamanho, a cor ou o tipo do vestido da menina, mas ela não saiu dos padrões brasileiros de comportamento. Crescemos no país que a televisão só mostra mulheres cheias de curvas, país que está cada dia mais sexista, machista e com homens cada dia mais chauvinistas. E o corpo é dela, onde está a liberdade? O direito de ir e vir? Que sociedade hipócrita com valores invertidos é essa que estamos criando?

Nós brasileiros somos comprados por propagandas de governo que nos mostram paisagens de paraísos tropicais, que muitas vezes nem temos condição de conhecer. Vivemos em contextos diversos onde pessoas são massacradas, jovens morrem de overdose, televisão é uma porcaria, ninguém faz a sua parte por um país mais cidadão e justo. Somos conhecidos mundialmente como “aqueles que querem se dar bem a todo custo” ou “vai pro Brasil esconde o dinheiro na meia”. Tá tudo errado e o meu papel social é escrever aqui, tentar mudar a realidade das pessoas ao meu redor, trocar idéias e achar um ponto comum, e nunca parar de sonhar com um país mais justo, onde as pessoas não queiram agredir as outras por motivos banais – por motivo algum – idealizar um país onde as pessoas desejem viver em paz, sem tantas agressões, vozes altas, gritos e etc.

Gritar por um vestido curto e não reclamar por seus direitos, não votar nas eleições, jogar lixo na rua, beber e dirigir, sustentar o tráfico. Esse não pode ser o Brasil, mas já que é... Coitado do meu scarpin.
Raquel Pimentel

6 comentários:

  1. Muito bom, Quel! Adorei! E concordo, a criatura não fez nada além do que já estamos todos acostumados a ver todos os dias e acontece aquela palhaçada? Mas é isso mesmo, complicado é entender a cabeça das pessoas. Ao mesmo tempo em que de um lado ela é hostilizada lá na universidade, do outro ela recebe convite para posar em revistas masculinas e se torna "celebridade" no shopping (não lembro se foi no fantástico que eu vi, mas passou ela andando no shopping e as pessoas pedindo para tirar foto com ela ¬¬') Quem entende? Coitado dos nossos scarpins fia, de todas nós, que somos mulheres. heheheh

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  2. ''Esse NÃO PODE SER o Brasil......Mas já que é..''

    Realmente, coitado dos nossos scarpins!! Esperamos que com ele façamos um Brasil que POSSA SER!

    AbraçooO, Raquel!

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  3. Quando são pequenas tudo vira graça. Deixa crescer para ver só no que vai dar...
    òtima abordagem

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  4. Concordo!
    E acrescento tres mini-provocaçoes:

    O modo se vestir é uma forma de expressao? ...

    Logo, onde estaria então a liberdade de expressao(desde que nao infira na ordem)? ...

    Logo, sera que o "jeito/conceito paulistano de ser" não formou uma crosta sobre o caso que deu no que deu? ...

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  5. pois é Toni, eu não quis enveredar por esse caminho, mas a sociedade paulistana está nos dando exemplos horríveis de preconceio de todos os tipos, do sexual ao modo de se vestir, e acho que deveria ser assunto a ser colocado em discussão por que eu me recordo de uns quatro exemplos como o da Geysi da UNIBAM. Vlw!

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  6. Pois é Quel, onde nós vamos parar? Cabe a nós, comunicólogos, refletirmos e criticarmos SIM, tudo isso.
    Tô um pouco "atrasada" aqui no teu blog,mas tá show, viu?
    Sempre que atualizar, vou ficar ligada!

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