30.3.13

Amante de ninguém



Mesmo quando seu corpo não está mais sobre o meu, a sensação permanece durante toda semana. Sei exatamente o peso proporcional de cada parte sua dividida pelas partes magras do meu corpo esquálido. 

Seu cheiro permanece nas minhas narinas pequenas e a cada vez que respiro me lembro de você, porque seu cheiro invade meu cérebro e me confunde os segundos, embaralha os minutos e é assim que levo minhas horas. 

E os dias vão passando e a cada semana quando te encontro clandestinamente levo comigo a sensação de seus dedos invadindo minha nuca e permanecendo em meus cabelos por longas horas a arrepiar minha espinha. Levo minha mão ao pescoço na esperança de encontrar a sua, em vão, ela já se foi. 

É difícil te ter em partes, na metade que me cabe, que não me cabe. 

Na metade que me encaixo e não caibo. 

Sou amante do sem compromisso, do tempo, da falta de tempo, do interesse mínimo, do que não me ama, do que me deseja.

Sou amante do espaço, da falta espaço, do enorme espaço quando você não está. 

Sou amante do beijo rápido, do sabor incorporado, do desejo velado, da saudade escancarada. 

Sou amante da alma sem dono, do coração partido e trancado que jamais será meu. 

Raquel Pimentel

3 comentários:

  1. Fantástico! Parece que nesse plano é preciso sofrer, inicialmente ou finalmente, com o amor. É acordar sabendo do beijo quente e dormir na esperança de te-lo novamente. Parabéns pelas belas palavras!!!!

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  2. É como se conhecesse você anônimo! Não sei se foram as palavras ou o disparar de meu coração ao lê-las, mas enfim, obg!

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