Tenho passeado por postagens alheias no facebook e outras redes sociais, local onde as pessoas tem o direito irrestrito de publicarem suas opiniões sobre qualquer assunto, até aqueles em que demonstram total ignominio do tema. Contudo, graças ao estado democrático de direito que vivemos lhes é permitido professar, inclusive, anseios pela volta de uma ditadura, o que mostra mais uma vez total desconhecimento de muitos temas. Mas vamos lá, até essas bobagens que lhes escrevo agora demonstram que tudo é permitido, além de ser proibido proibir (Obrigada, Caê.
O que me te chamado muito atenção é até onde vai o direito de professar tais barbáries, até onde Bolsonaros e Sharazades serão, não só endeusados, mas compartilhados e mau debatidos, que é o cerne de minha maior queixa.
Enquanto eles proclamam inverdades sobre leis e projetos inclusivos para mulheres, negros, homossexuais, transexuais ou qualquer outra minoria menos assistida no país, pessoas sem a mínima vontade e/ou curiosidade em estudar o que esta sendo realmente debatido levantam bandeiras “kit gay”, “kit macho”, "estuprador” e por aí vai.
Fruto talvez de nossa educação deficitária e a recente descoberta da opção compartilhar, que em 90% dos casos me parece uma função meramente participativa, onde o texto não é lido, o vídeo não é assistido, mas o título e a opinião tacanha do personagem principal é enaltecido.
O privilégio de ser branco, hetero, rico ou classe média, direitista, viver no sul ou sudeste do Brasil, não possuir nenhuma deficiência física ou mental, é realmente para poucos. São, talvez, a parcela da sociedade que não sofre nenhum tipo de exclusão social por ser minimamente “diferente”.
Os que levantam a bandeira do não aborto por questões religiosas, por exemplo, não levam em consideração que nesse mundão de pessoas diferentes, existem as feministas (que merecem ser respeitadas), os ateus, agnósticos, ou seja, pessoas que não comungam da sua fé ou crença. Opiniões particulares e direito sob o corpo são temas que vão do suicídio assistido ao aborto. Livre arbítrio, direito, propriedade, feminismo, liberdade sexual...
O dia em que as nossas crenças individuais não ultrapassarem aquilo que nós esperamos dos outros ou da sociedade, viveremos num pais justo. Aí eu tenho que respeitar aquele evangélico que bate de porta em porta, o católico, o espirita, o gay, o portador de síndrome de down, o autista.
Vamos deixar de lado essa mania de paladino da moralidade. Que moral é essa que exclui o diferente de mim? Que não inclui aquele menino autista na sala de aula do meu filho? E quando vamos realmente lutar pelas pessoas com deficiência psicológica que precisam de cuidados do estado? São realmente os gays o grande problema da sociedade? Os casais heteros são os maiores exemplos que você tem de família? As cotas raciais foi o que te excluiu de uma universidade pública? Você já ouviu falar em reparação histórica? Já leu sobre a história dos negros TRAZIDOS da África para o seu país? Sabe o nome do porteiro do seu prédio? Qual foi a última vez que você se dedicou a qualquer trabalho voluntário ou participativo que lhe inclua como ser atuante na sociedade em que você vive?
Você, católico fervoroso, frequentador da missa dominical, batizado, crismado e molhado de água benta, brasileiro que contribui em um país que gastou milhões com a vinda do Papa ao Brasil, só pode professar a sua religião LIVREMENTE porque muitos cristãos há dois mil anos foram perseguidos pelos romanos e mesmo assim sobreviveram, resistiram.
Quero lembrar que eram os romanos que colocavam no coliseu os cristãos, os judeus e os escravos. Lá eles se-pa-ra-vam quem era ou não digno de viver sob um regime de privilégios para homens e ricos.
Os bárbaros que eram os “não romanos” e que mantinham em seu espírito a vontade de resistir e combater os romanos (e serem iguais a eles em algum momento, essa é só uma analogia pobre), venceram essa luta. Os franceses derrubaram o absolutismo soltando os presos da Bastilha na Revolucao Francesa. Ou seja, sem revolução não é possível mudança.
Mas sejamos mais bárbaros e menos romanos, pelo menos nas ideias. Vamos resistir a um império dominador que visa roubar nossas vontades individuais, nosso tesão em sermos livres e pensadores. Proponho uma revolução da intelectualidade, portanto pare de falar besteiras sobre coisas que você desconhece, seja mais inclusivo e tolerante com o diferente. A diversidade é que faz com que sejamos mais belos em nosso todo.
Discorde de algo que você leu, que você não concordou por tais e tais motivos, não porque o Bolsonaro falou. Vamos deslegitimar o linchamento físico e moral. Mulheres tem postado vídeos de espancamento das amantes de seus companheiros e são aplaudidas (essa é a parte que tenho mais preguiça de pensar). Sejamos menos violentos.
Acredito (mesmo) no nome de uma campanha inclusiva sobre os portadores de síndrome de down que é “ser diferente é normal”. Já pensou viver em uma sociedade em que você é aceito?
Raquel Pimentel